Espaço de discussão e reflexão sobre a experiência do olhar e suas reverberações no corpo na construção/remontagem do espetáculo de dança contemporânea "feche os olhos para olhar" da desCompanhia de dança.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia. Rubem Alves

“Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.”

2 comentários:

  1. A partir disso entendo um pouco mais sobre a tal porosidade ou permeabilidade do corpo a qual falamos tanto. Li no posfácio do livro S. Bernardo: " o impulso para a escrita é determinado por um elemento exterior, onde o homem perde um pouco as fronteiras do cotidiano e do racional e se torna mais permeável aos signos da natureza. Tem algo em comum com "Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora". Valeu Yiuki, obrigada pela possibilidade de reflexão.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir