Espaço de discussão e reflexão sobre a experiência do olhar e suas reverberações no corpo na construção/remontagem do espetáculo de dança contemporânea "feche os olhos para olhar" da desCompanhia de dança.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O que nós escrevemos passa a ser outra coisa, a cada pessoa que nos lê…

“Mário de Andrade, meu querido amigo,
[...] Além disso, Mário, o que nós escrevemos passa a ser outra coisa, a cada pessoa que nos lê... E eles gostam não é do que nós dissemos, mas do que eles supõem encontrar, mesmo quando não exista... Você ainda não se ouviu interpretado pelos seus leitores, e, mais do que isso, adorado na interpretação que lhe ofereciam? E não se sentiu compungido? As criaturas sentem as ‘nossas’ experiências através das ‘suas’ experiências. [...] Quando nós sentimos a experiência alheia através da nossa – como somos hiperlatísicos, doentes, loucos, ‘luas’, poetas – transformamos aquilo em música, poesia, delírio, uma coisa maior que nós, arrebatadora e durável. [...]
Cecília Meireles

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A dança das imagens, e a leitura cruzada deles constrói novas associações poéticas, espaços cênicos.

Dia 24 de outubro de 2009, fui no MON e ví uma exposição muito interessante do Sergio Fingermann. Ela como todo é sui generis, pois traz uma sensação lúdica e imagética cheia de espaços e movimentos que ultrapassam os limites dos quadros.  O artista faz com que as obras surgidas da suas imaginações sejam completadas pelas imaginação do público numa forma generosa de um convite. Compartilho isso no blog, pois creio que existe muita relação com a pesquisa que estamos desenvolvendo para o espetáculo A Poetica do Olhar.  Recortei o release da exposição do site do MON aqui em baixo, pois talvez depois ele desapareça.  Att. Yiuki
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http://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/fingermann.html
A exposição reúne uma série de pinturas, desenhos e gravuras recentes, realizados entre 2005 e 2009 pelo paulista Sergio Fingermann (1953). O conjunto de obras, óleos sobre tela de grandes formatos e trabalhos em papel, é acompanhado por dois álbuns de águas-fortes, Elogio ao Silêncio e O Teatro do Mundo, tendo como tema central alegorias da música e o espaço cênico. A exibição da mostra tem o patrocínio da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e o apoio do Governo do Paraná e do Ministério da Cultura
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As obras nasceram de uma proposta feita ao artista pelo maestro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), John Neschling, para que pintasse as nove sinfonias de Beethoven, que deu origem a um conjunto maior de trabalhos. Nelas, Fingermann explorou o silêncio como qualidade própria da pintura. Leonardo da Vinci dizia que a pintura é “poesia muda”, experiência que deve ser fruída na contemplação, na solidão, nas pausas.
A reflexão da experiência artística sempre fez parte das preocupações de Sergio Fingermann. Em trinta anos de carreira, o pintor paulistano delimitou seu território poético apostando na formação e na singularidade como valores artísticos: “autenticidade e esforço em inscrever a própria experiência na história da arte, postura que exige uma vigília permanente em contextualizar aquilo que é feito naquilo que já está inscrito como arte”
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O artista acredita que o silêncio dos trabalhos provoca “a dança das imagens, e a leitura cruzada deles constrói novas associações poéticas, espaços cênicos”. Ele admite que é um simples pretexto para “articular sensações e evidenciar questões metafísicas da experiência da pintura”. Fingermann diz que por vezes, as imagens, a figuração que surge nos quadros remete ao mundo clássico, ideal, “um artifício para capturar o olhar e convocá-lo a uma elaboração, a construção de significados na forma de pensamentos. Sensações de ausência, espanto, estranhamento, desacomodamento do olhar, mistério, transcendência: na atmosfera dessas pinturas, nesse mundo, onde os deuses já foram embora, reina a nostalgia e o homem tem que reinventar a vida.”
A exposição é acompanhada pelas publicações: Elogio ao Silêncio e Alguns Escritos Sobre Pintura, e o recém-lançado Trama de sombras, que faz parte de uma coleção da Editora BEI chamada Educação do olhar. Os exemplares são o testemunho do artista plástico sobre a experiência da pintura, dando continuidade ao livro Fragmentos de um Dia Extenso, no qual Fingermann apresenta as bases éticas em que se constitui o seu trabalho.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SABER

Etimologia
lat. sapìo,is,ùi,ívi (ou ìi eí),ère 'ter sabor, ter bom paladar, ter cheiro, sentir por meio do gosto, ter inteligência, ser sensato, prudente, conhecer, compreender, saber'; ver sab-; f.hist. 991 sabere, sXIII saber (Dicionário Houass da lingua portuguesa)
Saber possui relação com o paladar, pois de todos os sentidos este é o que precisa de mais coragem. Quem ouve imagina, quem vê analisa, quem toca averigua, quem cheira seleciona, quem saboreia se arrisca em apreciar. O saber é colocar o incerto dentro de ti, mesmo que possa vomitar, pois é nesse risco que se encontra o deliciar.
Yiuki

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O que canto não significa que estou vivendo… Ney Matogrosso

desCompanhia, deixo um trecho da entrevista do Ney Matogrosso na Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada, dia 18-10-2009,  onde ele fala sobre o novo CD Beijo Bandido que está em lançamento. Gostei muito dele falando como escolhe o repertorio musical do album e de que maneira encara o exercício de um interprete.  Yiuki
“O que canto não significa que estou vivendo… É um exercício de intérprete. Busco um sentido no inconciênte, na minha memória. Não é a minha vida. Tem gente que diz que precisa estar apaixonado até para existir. Esse disco mesmo é o exercício  de alguém apaixonado e eu não necessariamente estou.
Quando uma música cai na minha mão, a primeira coisa que penso é: se eu fosse um compositor, teria escrito essas palavras? Esse é o meu critério.
A letra e as palavras.
Penso sempre em termos de roteiro. Tem de ter uma conversa, um assunto. Mesmo que não seja uma sequência lógica. O que importa é a impressão que aquilo, quando colocado junto, vai causar nas pessoas – e não de onde veio cada música individualmente.” (Ney Matogrosso)